quarta-feira, 25 de maio de 2011

Camisaria

"Seu corpo aceitando camisas, enquanto uma voz cavernosa jogava-lhe insultos no rosto. Gritando que ele era um demônio, que somente a dor o salvaria."

V. Biasoli.

Hallo imaginários!

Começo o post com essa citação do livro "Fúrias", escrito pelo professor Vitor Biasoli (aluna puxa saco mode on ¬¬'), porque, eu não sei, mas quando li, ela fez todo o sentido pra mim. 

Não que eu ouça vozes me chamando de demônio...

Ainda não, pelo menos...

Não que eu saiba...

Mas tem algo nesse trecho que me fez pensar em muita coisa - "Eu penso muitas coisas", como diria uma colega minha.

"Seu corpo aceitando camisas", no contexto do próprio conto, me fez imaginar uma pobre criatura sem voz, sem coragem de opinar, muitas vezes até sem vontade de discordar (Prazer, Simone). Aquela pessoa que acha que não se importa com nada, que pensa diferente, que age por ela mesma. 

 A questão é: ela pensa. E o pensamento muitas vezes não condiz com a realidade (não se preocupem imaginários, não abandonei o Idealismo pelas aulas de Teoria da História III). O pensar - e é nesse ponto que eu gostaria de chegar -, me fez acreditar que eu realmente poderia abandonar esse mundo "todo mundo de calça colorida quando eu contar até três", e quando eu digo abandonar, é abandonar mesmo. Largar de mão, fingir que não me atinge, foda-se as cores, vou usar só preto. 

Só que as coisas não funcionam dessa maneira, até porque eu ainda não consegui comprar uma ilha deserta para morar - se bem que Sibéria soa muito mais acolhedor.

As informações me atingem como bombas, as atenções, os olhares. A própria opinião geral, que antes não era nada importante, faz com que eu repense alguns conceitos meus. 

Lembra da "voz acusadora"?

Vocês não precisam escutar vozes cavernosas para saberem do que estou falando.

"Gritando que ele era um demônio, que somente a dor o salvaria." Que dor é essa? 

Na minha interpretação medíocre, essa "dor" significa um acordo com a realidade. Pensem comigo:

Você é livre para pensar o que quiser, certo? Mas essa liberdade já diminui quando seus pensamentos viram atos e ela quase se extingue quando toca o movimento cíclico da sociedade - aquela coisa toda de cultura, "conhecimento", ideologias...

Vocês podem pensar, desde que não atrapalhem o próximo. Porque isso é interferir em objetivos maiores (divinos? acho que não...) e acabar com o encaixe que há na humanidade.

Viu como dói? A prepotência, as mãos amarradas nas costas não são quase insuportáveis?

Foi isso que entendi.

Espero que meu professor não leia isso, mas se ler... Er...

Seja feliz, professor - e não leve essa coisa que acabou de ler muito a sério.

Livro:  Fúrias
Autor: Vitor Biasoli
Ano: 2003
Preço: olha... comprei num sebo, não sei quanto ele custa na real.

4 comentários:

  1. Che... Sabe que o ser humano é um animal social, certo? Animal mesmo, e social. Ou seja, conviver com outros seres humanos, "socializar", é uma das necessidades mais naturais e intrinsecamente humanas. Até onde entendo, a grande maioria dos outros animais mesmo tem essa mesma necessidade.
    Agora, há um certo consenso dentro da comunidade acadêmica relacionado a psicologia, sociologia e pré-história, segundo o qual o modo de pensar do caçador-coletor é o estado natural de nossa psique. Como os seres humanos viveram nesse sistema de caça e coleta por cerca de 2 milhões de anos, e como agricultores sedentários por não mais que 15 mil anos, penso que esse consenso seja sensato.
    Assim sendo, é totalmente anti-natural pra nós viver sabendo que existem 7 bilhões de pessoas no mundo, ou 200 milhões no país, ou 280 mil na cidade, ou mesmo 10 mil no bairro... Caçadores-coletores viviam em bandos de 25 a 50 pessoas no máximo, e aquelas pessoas eram todas sua família, e todos pensavam de maneira semelhante, todos simplesmente se identificavam... Vez por outra esses bandos se encontravam uns com os outros e havia uma grande festa e incentivo à exogamia, e as pessoas ficavam maravilhadas com aquele evente, provavelmente o único de sua vida, em que elas tinham a compreensão de existir no mundo mais que umas duzentas pessoas!
    O que eu to querendo dizer é que é totalmente natural não nos identificarmos com esse todo social monstruoso, mas mesmo assim temos necessidade de sermos seres sociais. E repito o que deixei subentendido: Ser social não significa ser "social". Entendeu? Humm.. Acho que não, né, deixa tentar de novo: Ser social, no sentido cru do conceito, não significa ser esse "social" que as pessoas hoje associaram diversas características imbecis como ser simpático, sorridente, falso, puxa-saco, enfim...
    Fato é que junto dessa necessidade de socializar com outros animais humanos, também temos necessidade de nos sentirmos parte de algo maior, nos identificarmos com algo além de nós mesmos.
    Peço desculpas por parecer estar tentando impor um modo de ver as coisas, tenho tentado não fazer mais isso, mas enfim... Acho que vai levar um tempo.

    Ah sim, quanto ao pensar X pensar social. Essa é uma boa discussão, até que ponto o que tu pensa difere totalmente do modo como os outros pensam? Quero dizer, ninguém tira nada do nada... Há uma corrente de pensamento que vai contra calças coloridas, e tu faz parte dela.

    O/ Cya

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  2. Ah.. Desculpa pelo comentário-dissertação mais uma vez...

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  3. Sim, me senti numa banca agora... Mas vamos lá:
    Concordo em algumas partes, caro colega. A parte do "ser social" implica em algo que Marx e Engels chamaram de Verkehr, ou seja, um intercâmbio entre as pessoas, e esse intercâmbio seria capaz de explicar alguns aspectos da sociedade - algo pouco como sua organização, por exemplo. Mas tem outra parte que não me agrada nisso tudo. Certo dia eu ouvi alguém dizer, não me lembro quem "você acha que descobriu alguma coisa e essa coisa parece-lhe genial, mas depois de um tempo acaba descobrindo também que outras pessoas já tinham pensado da mesma forma", e isso me fez pensar: não é porque tu pensa parecido com algumas pessoas que tu tem que necessariamente ser fixado em algum grupo (não sei se estou me expressando bem). Você chegou a uma conclusão sobre algo recebendo influências, nada vem do nada como tu disse, mas essa coisa de "tu, obrigatoriamente, faz parte dela" é muito complicado. Utilizando-me também de outro argumento teu, o fato das pessoas serem diferentes umas das outras não faz com que a ideia de "grupo ideológico" se torne um pouco generalizadora? É isso que desencadeia algumas reflexões minhas sobre "grupo".
    Exemplo: (lá vem meus exemplos sem nexo)
    Eu nasci em São Paulo, logo sou paulista. Mas, e se eu não tiver isso em mente, se eu não me identifico com as pessoas que também nasceram em São Paulo? Porém, há uma lei universal que me enquadra nesse grupo.
    Exemplo 2: Tudo bem, eu nasci em São Paulo e me considero paulista. Mas isso também me faz igual a todo mundo que nasceu lá?
    Posso estar entendendo tudo errado (o que é bem possível), mas é essa linha de pensamento que me acompanha, que me faz questionar certos pontos... Como eu disse, não leve tão a sério, isso tudo faz parte de um estudo para atingir o próximo grau de autismo e -N (brincadeira).
    Acho necessário esse contato (intelectual! Meramente psicológico! Cadê meu vermífugo?) entre as pessoas, mas acho equivocado esse "enquadramento".
    E generalização me lembra Ilustração, que me lembra Historicismo, que automaticamente me faz pensar em teoria e que eu tenho que estudar Materialismo antes que dê problema =/

    Giovan, tu é umas das únicas pessoas (imaginárias) que se prestam a comentar meu blog, pode escrever o quanto quiser nos comentários, eu deixo husahusuhauhhusa

    Até mais.

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  4. Primeiramente, a citação "você acha que descobriu alguma coisa e essa coisa parece-lhe genial, mas depois de um tempo acaba descobrindo também que outras pessoas já tinham pensado da mesma forma" foi do Diorge! Em uma das poucas aulas que eu fui, tive a graça de ouvir isso também. x]
    Segundamente, peço desculpas por parecer muitas vezes arrogante e ditador de ideias, impondo modos de pensar às outras pessoas. Não é o que eu pretendo... Tudo o que eu falo é o que eu penso, óbvio, mas as pessoas não percebem isso... É o que eu penso, é o modo como eu penso que as coisas sejam, não o modo como as coisas realmente são, sei lá eu como as coisas realmente são... Matrix? Enfim, mas é através desse contato entre o meu modo de pensar e o teu, e a ferrenha discussão entre eles, que ambos só tendem a se desenvolver!

    Enfim... Vamos continuar o comentário propriamente dito:
    "não é porque tu pensa parecido com algumas pessoas que tu tem que necessariamente ser fixado em algum grupo (não sei se estou me expressando bem)" Perfeito! (Pra mim - perfeito...)
    "Você chegou a uma conclusão sobre algo recebendo influências, nada vem do nada como tu disse, mas essa coisa de "tu, obrigatoriamente, faz parte dela" é muito complicado." Pois então, acho que não me fiz entender muito bem... Quando digo grupo ideológico, fazer parte de um grupo ideológico, não estou falando diretamente em pessoas, muito menos em classificações e enquadramentos, do tipo "Ah, eu penso assim, logo sou historicista ou nietzscheniano (existe isso?)". Nope, não é assim que eu penso. O que eu penso é que existem várias, milhares, incontáveis correntes de pensamento que podem ser caracterizadas como de "longa duração" segundo o Braudel. Por exemplo? Melhor ainda - Exemplo pessoal: Progressismo. Pensar que não existe progresso. Eu entrei na faculdade de história disposto a questionar o mundo com livros e livros sobre "será que existe mesmo o progresso?". Aí eu chego aqui e vi que toda a comunidade acadêmica já passou por esse questionamento a muito tempo. Isso é uma corrente de pensamento, saca? Esse pensar não progressivo, e isso chegou à minha pessoa de alguma forma indireta, sem ser por Nietzsche, Bloch, Le Goff, Fertig, etc... Mas chegou de alguma forma, não posso dizer que tive o azar de ter um pensamento original que já foi pensado anteriormente. Quero dizer, por um lado posso, aí depende do que tu entende por “original”. Mas enfim, penso que todos fazemos parte de inúmeras correntes de pensamento, e isso não implica que devemos nos enquadrar em algumas delas e nominá-las.
    Acho que é isso...
    Ah sim! Faltou uma coisa: “o fato das pessoas serem diferentes umas das outras não faz com que a ideia de "grupo ideológico" se torne um pouco generalizadora?” Ah... Minha resposta seria... Não. (Acertei? Acertei?) (Justifique, imbecil.) Bom, se é pra justificar eu tenho que acabar dando uma resposta dúbia – Sim, por outro lado, mas, profe, acho que não entendi a pergunta... Tá, as pessoas são diferentes, FATO. Agora, por que a idéia de grupo ideológico implicaria generalização? As pessoas não precisam ser iguais para pertencer ao mesmo grupo...
    Ah... Comentário-dissertação de novo, e esse acabou sendo feito meio que em partes, eu acabei meio que me perdendo um pouco do fio da meada. Mas respondi tudo...

    O/
    Giovan

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