domingo, 30 de outubro de 2011

Sterben

"Um filme, uma luz, a imagem da mãe.

Não me importo com o que exatamente minha mente vai se deter. Não me importo com o motivo ou as consequências. Não quero saber das reações.

Pois agora eu tenho certeza: o ser humano tem a capacidade de sentir a aproximação do fim.

O espelho logo mostrou meu rosto pálido, sem vida, o maxilar solto. Os cabelos desgrenhados, as olheiras, roxidão na região dos lábios. E os olhos... Ah, aquela maravilha exposta sem vida a encarar o nada como se realmente esse nada existisse – ou não existe nada?

Encarar por alguns instantes a própria cara cadavérica transportou meu subconsciente a questões insignificantes... - Será que meu caixão será confortável? “Ora, deixe de besteiras, mortos não sentem prazer no corforto.”

Mortos não sentem prazer.

Ou sentem?

Embora o masoquismo nunca tenha me afligido, gosto de pensar que os borrões que invadem minha mente no lugar dos famosos filmes que tanto falam, são formas sádicas que o tempo expressa por meio da culpa.

Minha culpa por me importar com coisas mundanas. Culpa da natureza por me fazer humana.

E o que é a culpa senão obra abstrata criada por mãos humanas?

As mesmas mãos que criam, descriam, revivem e matam(-se). Eu não vou me matar, nem criar, nem recriar... Ou o diabo à quatro.

Eu só vi minha imagem no espelho do banheiro pela manhã. A imagem cadavérica que me fez acreditar com todas as forças que o ser humano é capaz de sentir a hora da morte por meio de sinais perceptíveis... Isso é redundante? Pleonasmo? Sentir o perceptível? Você acha mesmo?

Se o teclado do computador emitisse sons como o teclado do piano, seria perceptível para você, pobre leitor, que lê esse relato de alguém que vira seu rosto morto no espelho do banheiro, sentir os sentimentos desse texto? Chopin, com sua marcha fúnebre, tinha o auxílio do piano para isso. Droga.

O que eu quero dizer com tudo isso? Hora, não seja sético, meu amigo.

Essa é a mensagem, esse é o sentido do sentir o perceptível, de enxergar o inimaginável, de acreditar mesmo quando não se quer.

Pois a morte, o começo do fim, o fim do começo, o começo do meio para o fim ou, simplesmente a terra que cobre o corpo sem vida é, de alguma forma, a consequência direta do nascimento. E você tem sim a capacida de enxergá-la.

Viva como se o mundo fosse realmente acabar daqui a algum tempo. Viva antes da morte torcar-lhe a campainha. Viva enquanto há tempo.

Pois o ser humano é capaz de sentir a morte. E é capaz de enlouquecer esperando pela sua chegada..."